quarta-feira, 24 de abril de 2013

De um passeio no parque e no livro: Arranhões pequeninos

As almofadas não eram pouso para descanso, mas a própria levitação! Faltam-me luzes específicas à molhar de cor as emoções já esquecidas, mas sabidas, para (de)escrever. Falta-me o entardecer, o de ontem em especial. A lua espacial, o lilás amarelado. 

Mesmo fechadas, as cortinas não simulam o princípio da beleza da tarde, não imitam a brisa, não fornecem café.O frio desta hora é somente branco. Lágrima envolta pelo gelo à que tento arranhar.É dos pequenos que venho falar, no contexto da levitação referida. No contexto de mesinhas adequadas para navegar. Eles são mar horizontal de respeito, profundos de afeto honesto, de honestidade. Multidimensionais.

Após dizê-los, ainda que com boa intenção, egoístas, aprendi no receio do mergulho em mim mesma que não são. Que não somos.

Emergindo, encontrei impulso ao salto: não é mau, mas, para além da força do superlativo, é corajosíssimo que um coração seja leve ou vulnerável. 

Os corações vulneráveis emocionam-se perante a dimensão da vida, transcendem o próprio universo e retornam para acolher seu manancial de bens espirituais ora energizantes, ora desmotivadores, um tão necessário quanto o outro. Os corações que assumiram sua leveza têm ainda, a liberdade de voar mesmo com os ventos poluídos e nebulosos, de abraçar a tristeza quieta na janela empoeirada e respeitá-la. Permitem-se cegar, permitem-se para saborear o novo sem obrigação de sorrir e de aliviar-se, de chorar ou disparar corrida, apenas aquietam-se e sentem.

Tais corações, ante a beleza não pasmam, comungam com ela.

Na ação (sempre poética) dos pequenos em nós e neles mesmos, conosco e todos juntos com o mundo faz-se a ponte para a frutífera convivência, respeita-se o ir e vir, plenifica-se a existência.