domingo, 27 de fevereiro de 2011

Azul + vermelho

Cante assim, como a chuva canta pra eu dormir.
Conte em meus ouvidos uma nova história durante todas as noites e dias adoravelmente granulados de uma luz azul ou dourada.
A dessa noite parece quente e macia.
Cada toque pesado dessa lágrima alegre nos braços da grama é uma confissão absoluta e acolhedora.  Uma saudade pra cada milímetro verde. Para os projetores do reflexo arroxeado um extraordinário reencontro... A nuvem as chama de volta, as gotas, que vem convertidas em suspiros pálidos que o dever da gratidão provoca. Viajam nas escadas do vento amigo, repousam, renascem, em queda livre algumas se perdem na sede dos vivos, outras escorrem na pele despertado sentidos alheios, ainda que cheguem a seus amores chegarão desfalcadas de um romantismo que ficou molhado na fome dos lábios, na adrenalina dos pássaros viajantes, nos raios dourados de sol. Muitas chegam, poucas chegam inteiras na espera aflita da grama... Mas é noite e eu devo continuar...
Então, vente assim, trazendo a neblina que pinta o sorriso do meu sono...
Raras são as coisas substituíveis. Boas ou más. Inexistentes as pessoas como enumeráveis os sentidos de cada momento. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um desmaio, talvez

Eu falo sempre as mesmas coisas, eu prendo muito em mim. Quero banir a palavra de sempre. Traduzir 'decepção'. Parar de falar da chuva, parar de ouvir música, parar de falar e de escrever. Dormir e não olhar no espelho, dormir sem ouvir minha voz, dormir sem vento, sem calor, sem frio, sem boa noite. Não sonhar, nem pensar e imaginar. Não lembrar do que esqueci. Não ter água nos olhos, sentimento no peito.
Ter força pra deixar a Bahia onde está, a ilha no mar, as ciganas migrando. A porta fechada, eu nem penso na porta! Eu pensava uma vez nas viagens de Natal, aquelas que faz o bom velhinho. Eu nem pensava nos duendes. No chaminé raramente, eu pensava em como é bonito o céu e as construções lá de cima. O céu sempre estrelado, o ventinho leve do verão.
Os vaga-lumes nunca mais apareceram, eles sumiram mesmo sem erguerem casa aqui ao lado. Eles se foram com a garoinha que mandava eu entrar na cozinha, com o jantar saboroso e raro do pai carinhosamente preocupado. Se foram as crianças que moravam depois do muro, foram e minha infância ficou um tanto sozinha, com toda a saudade de deitar na grama quando anoitecia, com vontade de pular o muro e ser índio, ser herói, ser atleta e professora. Se foram as conversas, o estudo, as risadas descontroladas, as divergências e as discussões. Ficou um amor muito grande, maior que a saudade. Ficaram milhares de lembranças, encantadoras lembranças de tudo.
Que eu também lembre com carinho das pessoas de hoje, se o destino nos separar. Que eu goste de lembrar das brigas, dos nossos planos, do nosso dia-a-dia.
Devo esquecer.
Tenho tentado buscar o silêncio. Desintoxicar. Exercitar a paciência, mergulhar fundo na calma. Não consegui mais que tentar. A partir de já vou levar a sério, superar. Amanhã vou dizer que tentei de verdade e vou partir enfim vazia do mal. Em paz. 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

18

O quarto sabe, ouviu muitos dos sonhos, das músicas também. Eu revivo agora, pouco mudou em mim, mas foi imensamente significativo. Já relembrei em outros textos... Não vale repetir.
Ainda imagino a mágica que não posso tocar. Ainda não consigo ver como imaturidade. Espero sempre gostar de sonhar. Não me diga que é bobo, não me diga que é comum, não diga que é patético. Evite gastar tempo e se aborrecer. Eu não vou acreditar.
Se fui ingênua é que ainda sou, pois não vejo mudança relevante nesse aspecto... Vejo coisas bem pesadas, sei de boa parte da maldade que se esconde atrás dos vidros que minha mãe jurava serem inquebráveis. Passei por medos, vergonhas, senti raiva, ambição. Deixei de perdoar, magoei, deixei o orgulho ferir tudo à volta. Omiti. Mas nada, nada ainda me fez querer deixar de acreditar em mim e nos outros. Senti tantas coisas boas tocando o meu coração, enxerguei alegria nos olhos de quem nasceu há dois anos, e, quando seus olhos brilham com as coisas mais simples aos otros, quando ele vem com tanta verdade, impulsivamente, me abraçar forte! Quando ele fica tão feliz do meu lado, ah! Eu vejo o quanto a vida vale a pena!
Eu sei que ainda vão gritar, sei que vão rir e me expulsar, mas não importa isso enquanto eu tiver pessoas de verdade do meu lado! Persistindo na simplicidade, no caráter, na dignidade. Não vale o desgaste querer que outros entendam, nem que acreditem.
Eu ainda choro se olhar muito os meus olhos no espelho, e eu ainda sorrio. Eu já não grito contra a forma como Deus me fez. Eu já não me desespero, mas ainda deito olhando pro piso e enrolando o cabelo, ainda paro pra contemplar o céu, os morros que tem aqui perto. Eu deixo o canto dos pássaros e a grama às vezes pra vir aqui escrever e saber o que fazem as pessoas também na rede. Deve ser um pouco de solidão...
O quarto não é mais igual, nem as roupas que eu gosto de provar mas eu ainda me arrumo sem precisar sair, eu apenas gosto e gosto de dançar quando ninguém vê.
Eu ainda busco o colo de mãe, não pra desabafar mas por ser o melhor do mundo, por saber que ela está aqui e que não existem palavras mais confortantes que essa nossa ligação.
Eu imagino lugares bonitos, junto lembranças daqueles que vi, daqueles que senti, e me imagino feita de pedaços, quero os pedaços frescos, ainda que verdes. Eu não vou desistir de nada disso, em alguns anos eu sei que deixei tempestades e mesquinharias me arrastarem, mas a pedra fria já me cuspiu de volta pra fora, e se eu pensar em esquecer dessas coisas boas que sinto hoje, você está aqui, texto. Basta reler pra relembrar, eu deixo você me fazer chorar, não há fraqueza em nada disso, e se houver, que tem? Sou alguém.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Que o meio me manipule


Eu sei de muito pouco. Eu sei que os melhores momentos são eternos na memória. Os piores são. A diferença é que tento esquecer os melhores por serem tão piores agora. É extremamente justo que nada volte.
Pensei que fossem 2:00h, por medo que fossem. Quis que fossem 6:00h, no mínimo, já que era escuro ainda do lado de cá da cortina. São 6:30h e eu não sei o que fazer com a hora. Eu apenas quis que amanhecesse logo pra que eu levantasse, já que a cama esta me expulsando, derrubando, encolhendo.  Já que ela enjoou de mim tão cedo!
Eu vou parar de escrever quando tudo for resposta e o sentido das coisas não me despertar vontade de compartilhar com as folhas essa emoção.
O céu está lilás, eu não gosto de lilás, mas... Lá fora tudo fica tão bonito! Quem sabe em algum lugar mágico, agora, perto do céu, alguém esteja esperando que o sol suba e as lágrimas rolem morro abaixo, alegres, leves, brotando dos olhos espertos que colhem toda a paisagem e guardam a imagem do perfume da terra... Enchendo o espírito com a canção angelical dos pássaros, enchendo a alma do amor que vem de algum lugar preso no universo, um lugar que deixa vazar como os raios claros do sol...
Eu imaginei um canto, pequeno que fosse, um lado da nuvem que acolhe o sol cansado do entardecer, uma luz rosada, um macio inigualável, uma brisa nova, pura! Nascida ali do vão entre as estrelas do dia, sem nunca ter passado por outros lugares, sem nunca ter ouvido os pensamentos  absurdamente manipuladores desse mundo...  Ilimitado, cobiçado, indescritível [o lugar.
Eu vou pegar uma estrada longa, com paisagens novas que me arrastem pro mar, ouvir as melhores músicas no volume mais alto sem receio de cantar. 'Entender o vento'.
O que acontece é o que há de acontecer, pra que tanto cuidado? Pra que existe o medo?
Um dia tive razão, há muito tempo, e preferi ouvir os impulsos do coração. Eu ainda não sei entender meu coração. Eu sei que é ele que sente a calma da chuva, ele que sopra nos meus ouvidos a esperança de coisas bonitas que estão por vir... 
É de dentro pra fora, vem da mesma estrada que leva pra alma. É a soma do silêncio aproximado de 6.480 madrugadas.

Data original: 09 de fevereiro de 2011 - 6:30h

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Do lado de lá das muralhas

Cada vez mais eu percebo que é em vão eu tentar descrever a pureza e o sentido das coisas. Tal como a luz da madrugada pintada e musicada por uma garoa macia, macia como o colo aconchegante de mãe.
Eu me repetiria embora as emoções que essas imagens e sentidos me trazem sejam exclusivas, inéditas.
A mágica está presente, viva nas poesias dos insetos da noite, na imaginação a que eles me remetem. Está nas lembranças que tenho de quando tinha dúvidas, de quando indagava a si mesma se seria possível deitar na grama enquanto o planeta dormia pra que a lua se aproximasse de mim sem vergonha e eu pudesse, então, admirar suas crateras com cuidado.
Eu gostaria ainda de ter dúvidas, dúvidas quanto a coisas boas. Talvez as tenha, talvez as cultivasse melhor e sentisse mais a vida se não tivesse tanto desejo de vivê-la e compreendê-la.
Sou eu agora e a madrugada. Eu e o conforto do quarto. Eu e os grilinhos, e esse amor que me desperta o instante. Sou eu e um pouco ainda das coisas que morderam a paz da semana, eu revendo sem querer rever, escrevendo sem querer escrever o que martela a cabeça, o que deixa escapar pra si pedacinhos de tristeza...
Mas existem continuações, hoje eu juntei passagens de coisas que aconteceram no decorrer de dezoito anos e algumas semanas. Eu pude entender que eu fui forte de verdade dezenas de vezes, e que hoje eu sou mais. Que o que há de ruim em cada tão pouco a junção de decepções e mágoas vividas não merecem extensão, não vão ser convidadas nem empurradas pro meu presente, não vão diminuir minha esperança e afetar os meus mais preciosos sonhos. 
Continuo a ser quem fui, na essência. Minha verdade e meus valores são de enorme importância pra mim e não é pessoal, não é inteiramente voluntário que eu continue a arrancar toda a verdade do meu peito mesmo à quem me pisa, à quem inventa, à quem machuca. Machucaria incontáveis vezes mais e machucou quando eu tentei ocultar. É porque a minha alma me deixa descansar tranquila à noite independente do que as pessoas acreditem, independente das coisas contrárias que me disseram. Seria bom que as pessoas de que gosto tanto não se deixassem contaminar por desconfianças e absurdas proteções, seria bom se não entendessem palavras que saem do peito como ironia ou deboche. Seria bom se eu já soubesse lidar com isso, mas é bom que eu tenha esperança e persistência, que eu busque aprender a conviver com gritantes adversidades. É maravilhoso que elas ainda me aceitem assim, resistente, sem querer mudar por egoísmo, pra manter minha consciência em paz.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Força banalizada ou reinventada

Me bate aquela velha vontade de estacionar. Semelhante a saudade do inverno quando se fica em casa na cama. É uma saudade triste. Quando sabe-se que ninguém apoiará ninguém em decisões pesadas. Assim, como que fossem decisões.
E que tem sido fraquezas, e tantas. Tem sido talvez uma mentira a vida em que eu acreditava ter vivido com força. Conclusão baseada naquilo que superei, não na forma como superei. Eu não morri, e foi só.
Que viessem e vieram tempestades devastadoras, relâmpagos assustadores. Noites eternas. Lembro delas ainda hoje. E não detalhando tais passagens, apenas reforçando que foram amargas e quase insuportaveis, ressalto que não as superei por força minha, mas por força do destino. E me faz ainda mais fraca reconhecer.
E toda a idéia de força vem distorcida? Ou vem confusa, apenas?
Não é necessário força demais pra sair de casa quando se quer dormir, força pra se permitir sorrir com os amigos, ou quando não se tem amigos, rir das besteiras da TV.
Eu depositava num brinquedo extremo afeto. Absurdo afeto. Como que sentisse meu carinho, ouvisse minhas canções de ninar e dormisse alí, com os olhinhos abertos e sempre tristes. Um bocado de panos e pelúcias gostosa de abraçar, mas que nunca tirava a  feição pesada do rosto inventado. Porque inventado triste, assim?
E que eu seria forte se não mais lembrasse com tristeza. E se todo meu passado não viesse, agora, de encontro a um presente arremessado de alegrias tão recentes. Que eu não tivesse percebido ontem que àquela tarde no sítio foi  a mais feliz e completa porque a alegria era mútua. Que fosse o momento, que não diga mais nada no presente, eu entendo apenas que ela foi.