terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nesses meus olhos teus


Lembro o teu sorriso preso do lado de dentro da vergonha... Da barreira dos teus olhos grossos ele não é digno de passar. E só alcança a estes pela ponte involuntária de um pulsar alerta.
Ah o tamanho do teu coração... Deve ser, também o meu, feito dessa vontade de explodir, insaciável por toda a vida vivida. Extremo, intenso.
Penso em acordar uma manhã em tua memória. Uma manhã quente de primavera, florida... Daquelas que leva até a cama o perfume do campo num convite à despertar.
Devo te convencer numa expressão dessa minha face tua a preparar pro almoço, com teu carinho solto, porções fartas do nosso melhor passado...
Minto o que sinto quanto tento te contar, sufoca em tua fraqueza minha chance outra vez... Ressuscita em canções fortes. Suponho grave tua voz em canto, mas é no peito que engasga minha coragem de ouvir.
Por entre livros, poemas, retratos e pratos teus, eu construo o meu ateliê. Fundamental é toda a bagunça para pintar uma ilusão. É doce sonhar acordada...  Pra tamanha ternura, talvez, não exista outra forma de sobreviver.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Safira

Eu desejo com força enorme (porém insuficiente pra me elevar ao absoluto da mágica) um enorme casarão...
Me sabe o abismo do inconsciente e todo o seu acervo de canções e cenários, e mais: Assombrado de tudo quanto provou os sentidos!
Um enorme, gigantesco casarão! Por onde possam vagar as idéias todas (infinitas) do dia. Que um único dia traz consigo a imensidão... Toda a conclusão da vida, incluindo a futura, anda atada à corda desse tempo.
De madeira forte e velha, se resistir às recordações pesadas tal espécie... Se não resistir que quebrem-na qual quebrariam ondas cegas de paixão e de oceano.
De espaço pra comportar eco de suspiros, de azul profundo representando a lua. Na cor do clima gelando por aceito, o contente acolher do frio... O vazio da mobilha. Tem de haver tecidos claros e leves pra tingir a noite ao dançar do vento, quero ver na melodia meus olhos e seu tamanho real, crescente.
Eu quero altura.
Quero ar.
Desejo uma casa que eu não possua numa ilha deserta do pacífico, durante três dias sem noite. Desejo a minha companhia e toda a reconstrução da vida perdida de si. Desconstrução... Barco sem fundo na volta.
Pra sempre vou refletir os dourados da tarde, seja na chuva morna das águas do mar ou não. Seja no tom mais inspirador da noite, safira.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Presos à terra

A maior verdade continua sendo a maior verdade quando se está triste. Ela fala mais baixo, porém.
Num largo tumulto, quem sabe uma tempestade, é sequestrada a razão dos melhores poetas. Conflitos da chuva!  Sim, se houver melhores poetas...
Pára o mundo próximo aos olhos. Os olhos do coração, da alma, dessas coisas que as palavras inventam, dessas palavras que não dão conta da existência humana. E perto desses olhos abre-se novamente um cativeiro, minado de certa saudade, onde estão plantados sonhos, presos a terra, se desenvolvendo... Presos a terra! Lá onde existe inquebrantável força, a força do vento gelado, as estacas fascinantes de cristal e seu ainda mais fascinante acalanto. Paremos. Entre o sono e o descanso. Entre o brilho, a lua e o sol. A necessidade e a palidez do desânimo.
São poetas dramáticos, são vidas que não bastam sequer em sua imensidão. Paremos de girar, de viver em nosso cotidiano, em nossos planos e em nossas aspirações. Paremos de sentir frio ou calor, de buscar e desviar. De buscar ou desviar. Vazio de sentido todo o mundo, paremos um minuto e pensemos conscientes. Condizentes com a essência no instante do parto.