domingo, 1 de junho de 2014

Emmurecido

Vitrola é uma palavra bonita. Eu não posso reproduzi-la. Toca em mim como em nenhum outro corpo. É para mim como não é em si: O mistério dos entes que Heidegger declarou. Mas o desconexo pede que eu continue a lembrar de uma história...
Eu gargalhava no banheiro e a parede escorria cores verdes e rosadas, musgos de floresta fresca e anoitecida de sol comestível. Conversávamos, mas sempre pro alto. Um poço camuflado de palha sedutora lá fora, chamava para um mergulho e eu continuava rindo atrás dos biombos de madeira, pretendia um ''lá fora'' mais fora, a céu aberto avesso porque era bem mais que a palha o que me elevava, era o poço largando mão dos tijolos e levitando comigo, ao lado.
A armadilha tocava e eu chovia para cima, pisando em seus degraus musicais e pensando que o poço vinha comigo. Ele não vinha, armadilha que era. Não poderia largar das notas que eu escalava. Ele ficava. E eu acreditava no que o ente não conta, no que eu não me darei conta, nem Heidegger, sequer seu (o do poço)  subconsciente emmurecido.