terça-feira, 30 de agosto de 2011

Flor do mar

Colho a lembrança como a menina colhe as poucas frutas frescas do inverno... Ouço o som delicioso das primeiras mordidas nos meus versos verdes...
Por hora eu me repito. E desde então... Desde aquela leitura que se confunde comigo e me confunde com ela. Puramente infectada de uma magia enigmática. Ela na boca, a sede crescente.
Com toda a sua inegável influência eu reviro as mesmas frases e as mesmas vozes escritas me chamam para dentro do cenário imaginativo: o mais bonito! Nunca nada fora melhor que um sonho em minha vida real. Nem a praia, sendo que na lembrança o desejo implacável de retornar é mais saboroso que a imensidão da areia sob os pés.
Há de ser mais dourado aquele sol... Mas admito, foi incrível, só em menor proporção que a lembrança, um (somado) dia de conversa silenciosa trocada em sentidos e vibrações extraordinárias com a vida. Também não o posso afirmar mais ou menos intenso. Me confunde e discute qual fantasmas transparentes dentro de mim o impasse. Doce bailar!
Como a menina exala em flor perfumada e perigosa uma recém-nascida mulher  eu respondo as confusões com esperança em imagens maravilhosas, brisas revigorantes, vendaval antes da chuva. Toda a natureza há de ser, mesclada a construções ou não, uma imaginação viva de um ser a nos transportar e completar num instante. Toda construção artística há de ser também, e por que não, todos os pensamentos da mesma correnteza?
O mar é salgado demais pra saciedade e por si só não basta. Nem a praia sem vegetação...
Faz morada em meus segredos, além do horizonte vermelho de sol, uma flor. Temo que esse Sol um dia aprenda a olhar além do mero reflexo e a encontre ao fundo, e a encontre. Sequer o espetáculo do eclipse ainda a fez emergir, nem o desenho subliminar das nuvens ou o véu de uma dança ilusória. Se ele esquece o fio espelhado de nada valerão seus espinhos, então úmidos de amor, de amor.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Do desejo desesperado dos últimos dias

Tem frases escondidas dentro dos meus delírios. Tem uma quinta fase na lua que eu não posso ver. Momento de cansaço, falta de espaço, grandeza demais para os meus olhos... Inveja dela que enxerga todo o mar, inveja da inveja que ela sente ao me ver ora na brisa, ora na umidade e na mudança de cor. Horas tão raras. Meus pobres olhos são condenados à paisagem de alcance.
Me quero tão só.
Tenho cá uma caixa de músicas sem utilidade, já que eu guardo uns rancores e que; semelhante a cofres de louça sob formas rudes de porco se quebra com ansiedade; hora ou outra ela também há de se quebrar.
Muitos lagos transbordam assim, de superficiais que são. De belos à noite no bosque, falsos sob a luz do Sol.
Me quero só, lá pra onde música nenhuma ainda me pôde transportar.
Onde ninguém vai discursar, palavra em demasia é falta de consideração.
Me tenho em prova iminente.
Passei por todas as coisas que já passei. Do relógio ao vapor que se repete fosco e angustiante. Do sonífero doce (desnecessário) ao pó das folhas cheias de tinta desbotada.
Desabotoada pela memória a rosa do poema, vaga... Num caderno que partiu.
Dos rancores e do rio não há nada que concluir. Falam eles pelas próprias frases já exaustas.
Irão dormir...
Sigo acordada no grito de que me quero só! Para além da cama à hora do ocidente dormir, para além da escada onde se acendem as luzes que vão de novo me condenar, além do encontro e da busca, da saudade e da meditação.
Na vontade que me transporta e na paixão doentia por esses olhos infinitamente vaidosos que admirados de si não bastam.
Fome da vida das personagens vivas no estrago permanente da minha. Só o concreto não é utópico. Triste realidade óbvia entre as páginas clichês dessa história!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Numa dessas viagens de volta

Ah! Se a minha saudade não fosse do tamanho da distância entre a janela e o infinito. Se a janela fosse de ninguém e o infinito meu.
Um bocado menor (a distância), e eu andaria descalço, afobada e cega até o alcançar.
A grama, a terra e a colcha de retalhos no percurso que os pés testemunham, e só.
Um salto, ás vezes, no espaço eterno. Aquele encorajado pelo pulso mais forte do coração... Ligeiras voltas em vestido rosado . Vagaroso, dançante... A ponta dos mesmos pés, que mais nunca terão de se equilibrar sobre as mesmas cordas.
Faltava-me, à época, asas por onde alçar vôo em fuga, de encontro ao leste.
Ah! Se minha saudade ardesse menos no peito que algo tão semelhante a raiva. Se essa primeira me oferecesse  uma fatia de paciência, eu me levantaria da bagunça que não oferta o nada pra eu me esvaziar.
Explica, encontro! Ou desenha o que meu ânimo impede de explicar a alguém...
Me leia, decifre. Sinta e me beije trajado de mar.
Brinque... Faça que me larga inteira numa caravela e volte! Volte ligeiro, como brisa leve dançando no rosto. Acenda o sol nos cabelos da tarde enamorados dos meus, feitos em cama ao calor de inverno.
Me leve pra longe, pra mais longe que o sempre! Me encha os olhos do horizonte mesclado em todos os tons quentes do céu e me embale enquanto canta a tua canção gota a gota. Deixe-me respirar o ar que te sente vivo. Faça dia e noite avançarem lentos, como parados um, no instante anterior do outro. Permita o tempo incendiar, no fascínio das chamas em que o amor há de erguer. Regue-me em chuva de carinhos lentos qual solidão. Atenciosa feito a lua me guardando em uma de suas fases cheias...
Sobre o céu, não sei o que é mar. Se vôo ou flutuo.
Dissolva, saudade líquida, a palavra-desgaste, o sono assassinado, a falta de espaço, a mentira incrustada no coração.
Que a onda, antes de quebrar, engula a vida anterior ao barco a vela e seus versos brancos.
O mar não crê. Dos caminhos do rio, chega viva a transparência.