sexta-feira, 26 de outubro de 2012

E se cansar o sol, também volto a ser gente

Quando há sol depois que o lago enche eu fico generosa, colaboro com gotinhas frescas e sopro alguns suspiros de longe... Vejo a vida do único jeito que faz sentido, pulsando.  Saboreio da calçada nova as cores que remetem ao espanto de um ser, o que não cabe na civilização, pequeno e demasiado afetuoso.
Quando não há trabalho e o sol volta alto no sino da igreja, eu rogo a graça de ignorar, como quando pequena, o prático, o cálculo oco, a convenção, a ordem dos passos pra cada lugar, sua aparência e meticulosa intenção.
Quando o sol fica azul e os pássaros amarelos, me estico de novo na grama e queimo pra irradiar a verdade e importância suprema no mundo, como se procedesse,. Eu queimo pra derreter o olhar pro chão de quem habita a casa e semeia as camélias, de quem tem medo de não administrar seus sentidos e desencaixar, teve de abrigar duas forças numa só alma e eu tenho de assistir ora um sorriso, ora uma ausência. Mas eu queimo, eu como o sol pra queimar de belo sendo que, infelizmente assim, consumo em chama antes de acordar.
Quando cansa o sol a lembrança é apertada, aí então cabe o ser pequeno no presente, com a cabeça inteira emaranhada a tropeçar pela cama: importa sonhar um mergulho no concreto da sombra de cores pós chuva, abro a boca e respiro, a ilusão de vida fria sai.

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