quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Dança de braços (dois)

         Quando se pensa no encanto é que ele é passado pesado nas pernas, é que ele é saudade desastrosa de uma flor que eu lia e relia - a vida - saboreando consciente e metafisicamente cada matiz e o pó mágico incolor que os constituía.  Agora dói sonhar mesmo sentada a ler meus personagens realista-psicológicos em sua perigosa ingenuidade infantil. Nada há de perigoso agora, fez-se estático o tempo e, quando pouco, circular.  Fez-se deboche tudo de mulher que havia em menina, toda arte, toda honestidade poética, a força física, a curiosidade, fez-se trivialidade e vislumbre avesso ao alheio, leigo.
         O vento precipitado e apelativo da realidade havia fechado as cortinas de um êxtase e não tardaria a chegar a tempestade que impulsionaria ao alto a telha que - por engano ou maldade - me desamparou. Um raio atravessou a lacuna antes que eu sentisse a chuva, e em choque eu tenho caminhado por limitadas direções Onde inspiração é inútil e delicadeza é pras horas de vontade. Vou inventar o que há de supérfulo em real imaturidade e a sitemica agradará - à quem?
       Quando eu pensava no encanto ele era presente, ele era o mundo inteiro agraciado pela chuva de pernas e braços,  os quatro! Que eu me faça teatral, que eu me faça dramática e trágica, que eu me faça o que os ânimos permitem num dos auges da oscilação.

Não sei o que é que me derrete
O que na memoria escorre gelado tecendo veias espirais
Sei que derrete silencioso de forma que desperta
O sono (Goya) da razão

         Não amo a solidão dos pensamentos, a solidão calculada ao passar pelas ondas claras ou sujas da vida e não é opcional que eu o faça, quando. Minha sede egoísta e original é partilhar - frase que as letras injustas encurtam a gravidade. Quero oito membros.

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