Há dias em que me sinto bem à noite, apesar de amante do sol. A luz do luar é boa companheira, estimula a reflexão... Esta noite, em especial, lembra o passado, não tão distante, sou ainda jovem.Lembra-me os sonhos, que nunca cederam lugar à completa realidade (não que ceda à alguém, é que os sinto vivos). Nesta mesma janela eles vem e vão, realizar-se? Raramente... Evaporam, viajam apenas, enfraquecem, encantam ou desiludem-me. Eu lembro de sonhos despreocupados, de sonhos impossíveis, sonhos simples, de criança. Não quero voltar, não devo querer. Havia coisas ruins demais naquele tempo, pesadelos, noites sem dormir, choro gritado, brincos de guizo à assustar-me ainda mais, a pregar-me ainda mais medo com suspense que largavam pela casa... Havia muito medo. Curei-me, não só, mas... Sempre suportamos o que julgava-mos não suportar, nos obrigamos. As cobertas eram como o escudo, queria minha mãe dos dois lados da cama. Talvez faltasse o pai. Queria que os vidros tão fortes da janela também barrassem os fantasmas das histórias da escola. Queria dormir e não acordar durante a noite, sonhar com supermercados e brinquedos, com o mar que não dava medo, com as férias de verão. Queria que o tal escudo não aquecesse tanto, nem sufocasse, queria importância, eu as tive com o tempo. Substitui os problemas, hoje aqueles são simples, ridículos... Ainda olho os desenhos que se formam no bolor das paredes e nos nós da madeira do forro sem coragem ou disposição de reproduzí-los. Hoje são anjos, borboletas, figuras comicas, corações, antes eram monstros, minhocas, comida e corações.
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