quinta-feira, 21 de junho de 2012

Palavra é escada

Quem sabe um peixe do mar me devolvesse esse deleite que nem o sonho da noite passada recuperou, apenas remeteu e despertou nos olhos fechados e inquietos (que procuravam desesperados de um lado pro outro a saudade), essa saudade afogada do meu mundo. Ah! Esse peixe de um sabor singular e regado a paisagem. Somente essa paisagem, essa atmosfera deliciosa de ventania morna sopraria a vida imensa de volta célula a célula.
E quem sabe um vento... Um calor e um refrescar simultâneo, as dunas! Qual castelos de areia a me erguerem rainha e poderosa sobre os sentidos, dona do mundo claro da alma.
Então, não sentiria a dor da distância do meu mundo, salvo os clichês e lamento.
Por hora, a chuva desce agravando o aperto no peito como uma ofensa gelada e úmida. O corpo se recolhe involuntário e a vontade de dançar prende o salto na lembrança. Mal aninhada eu respiro fraquinho, falhado.

Sinto vontade de qualquer folha parecida com verão, qualquer poça d'água que reflita o cristal da estação. Um vestido de flor. Qualquer coisa mais quente, qualquer coisa menos cinza. Um samba e uma varanda com rede, calçadas para o anoitecer. Qualquer bar, qualquer som, a liberdade dos braços despidos. Vontade de ver cinco horas pela fresta, pra amanhecer enroscada no balanço dos varais e despencar sobre o colo da grama molhada. Ah! Saudades... Se houvesse como alcançar com as pernas por um instante eu correria a toda velocidade, a esquecerem meus pés do chão, a saltar num vôo de menina e deslizar no tempo até cair: sobre a poça rasa e dourada da pedra, partilhar do choro bom com os olhos da cachoeira.

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