sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Rascunho

O papel é sempre bom companheiro. A caneta corre com as reflexões, espera, erra, rasura a palavra, o sentido. Mas a preguiça ou a mania de poupar as linhas sempre revela mais erros e a fidelidade aos primeiros pensamentos, às primeiras idéias.
Peguei o caderno a fim de escrever sobre as minhas reflexões de ontem à noite. Ah! Se eu gravasse meus pensamentos todos com os seus parenteses, reticencias, rabiscos, verdades, imoralidades, vergonhas... Ah! Se corajosa o bastante eu fosse a ponto de publicá-los, seria tão mais fiel à essência do tema proposto no blog.
A verdade é que sou tanto sentimento, tanta aflição pegajosa, alegria amarga. Esses gritos internos felizes, desejosos de vida e contudo medrosos, prudentes. O gostar e não servir de nada. O amor cego e furioso, furiosamente cego, cego, cego!
Debruçada na agonia e no fascínio, tanto fascínio! Agonia o suficiente a me render pedacinhos do que sou, fui e que buscando não ser me dôo agora para remoer realizada ou não amanhã.
Que meus olhos pequenos assim de dores e amores por mim mesma são incapazes de trazer alguma aquietação, como os ouvidos exaustos de musica tão intensa que se raramente ouvida traria ainda emoção.
Assim, do jeito que eu sou que você pode ver é o jeito que me impede de ser mais riso absurdo, imediato, fonte de olhar, nunca investigação, desejo de ser que quase se alcança e se conforma, se inventa, se constrói por dentro quando a embalagem não é a desejada. É aí que a releitura me acode. No rumo que se toma falta o gelo, o gás e a sede. Eu só entendo e satisfeita ou não eu só decido publicar mesmo pra enfeitar, enfeiar, acrescentar um número ou uma vaidade.
Por que é o solo agressivo das guitarras de uma nova melodia que caminha na massa cinzenta agora. Dói por dentro, ainda não sei onde... Ali perto do peito, onde não assimila sentimento... não? Que palavra me traz as emoções tão desligadas? A que palavra? A que serve essa interrogação do episódio de ontem? Que querem as mulheres...?
Cada dia eliminar mais perguntas por meio de respostas vividas, revividas, repensadas.
Da guitarra ao violão, ao som fúnebre e noturno, com imagens reais não vividas nem por quem através delas surgiu, se pintou, se vestiu.
Que vento tão bruto arranca de mim um sentir intenso e o transporta a outro mais e mais duramente intenso?
Que a brasileira mulata desenhada em traços calientes se desmancha em camponesas românticas e recatadas que voltam a extravagar desejos de idolatradas musas hollywoodianas.
Uma cigana migra de um sentido a outro, constrói laços, acende as velas, se fixa e incendeia a cabana pra reinventar seu primeiro sonho.
Corram idéias! Mais que a enchente derrubando os trigais! Repousa em mares de sonhos profundos e eternos oh, cabelos infindos da sereia escondida na ressaca amante das pedras...
À menina que sonha, acorda, existe. Não vive.

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